Estudo - Samaritanos que Mudam o Mundo!
“Este homem é perigoso - ele acredita no que diz”. (Joseph Goebbels).
Sem exceção. As pessoas que mudam o mundo são aquelas que têm algo para oferecer. E é desse importante assunto – dar – que trata a parábola do Bom Samaritano (S. Lucas 10. 25-37). A grande verdade que nos é pintada logo de inicio é que nem sempre quem sabe muito sabe o que se precisa. Não é novidade que a religião judaica nos tempos de Jesus estava falida. Isso é um fato. Estava falida por que toda religião precisa estar perto dos anseios dos homens e nos tempos de Jesus isso não acontecia. O doutor da lei que procura Jesus nos dá uma idéia certa da religião naquele momento (Ele só tinha muito curiosidade. Alias, é o que mais sobre hoje na vida de muitos líderes). Ele é um homem vazio e seu vazio é revelado à medida que suas dúvidas são esclarecidas. Primeiro ele tem um conhecimento sem conteúdo divino, ele conhece a letra, mas não sabe mais de quem é a caligrafia. Jesus então lhe diz que seu conhecimento é tecnicamente correto, então nos é revelado o tamanho de seu vazio. Ele sabe o que fazer, mas não sabe a quem fazer. Você pode ter muitos bem, mas, se não souber com quem vai dividi-los você é uma pessoa vazia.
Aprendi logo no inicio da minha vida Cristã que cada um dá o que tem e só. Os ingleses costumam dizer que “ajuda melhor quem ajuda a si mesmo” e com isso a doutrina Cristã concorda (Ef 4. 28/I Ts 4. 11). Jesus então usa uma parábola para pintar a imagem de um homem que pode transformar o mundo, pois qualquer pessoa que tem essas seis (esse é o numero do homem) características em sua vida pode fazer uma revolução religiosa.
1. “... Aproximou-se”.
Disciplina – Quem a si mesmo disciplina, sabe sempre por onde começar a ajudar os outros. Quem tem disciplina conhece sua própria miséria e sabe que precisa de bons hábitos para evitar cair nela novamente (I Cor 11.28-34). Quem aprende a se ajudar está pronto para ajudar a outros. Um cego não pode guiar outro cego (Mt 23. 15). Esse é o caminho que Paulo segue e instrui Timóteo e Tito (Gal 6. 8/I Tm 4. 16/II Tm 4. 13b/Tt 2. 7). Maus hábitos se instalam rápido em nossas vidas, como placas de tártaro que logo se transformam em cáries (Is 57. 20/I Cor 15. 33). Jesus tinha uma vida de valores cadentes por que seus hábitos foram disciplinados. É importante saber o que fazer, quando algo precisa ser feito (Dt 28. 6).
2. “... enfaixou-lhe as feridas”.
Fibra – O Bom samaritano tem fibra para lidar com as adversidades da vida. A faixa é como uma segunda pele, uma casca. É a experiência e a exposição à vida e as suas bruscas mudanças. Diante dos acontecimentos que culminaram no Getsêmani, Jesus bem nos mostra o que significa ter fibra (Mt 26. 47-46). O escritor Sagrado de Provérbios diz: “Se te mostras fraco no dia da angustia, a tua força é pequena” (24. 10). Eu e Elaine, minha esposa formulamos uma teologia simples sobre a ação do sofrimento e da traição: “Se elas não te derrubam, elas te fortalecem!”. E dessa forma estamos seguindo nosso caminho (Fil 3. 13, 14). Precisamos ser mais fortes que as más circunstâncias para ajudar aqueles que dela são vítimas (Hb 12. 3, 4). No giro do mundo alguns vão caindo e se machucando, mas quem está enraizado em Cristo não sente tontura, pois seus valores não giram nesse movimento (At 27. 22-26/Gal 5. 1/Rm 12. 2/Ef 4. 14). Quanto aqueles que fazem o mundo girar (como o assaltante da parábola), mais cedo ou mais tarde eles mesmos cairão junto com seu pai, satanás (Gal 6. 7/II Tm 3. 13).
3. “... derramando nelas vinho...”
Verdade – Ele não tem medo de falar às verdades que são necessárias. Aqui o vinho representa a verdade, por que tem uso medicinal. Ele era usado para fazer a higiene da ferida. A ferida mais purulenta de nossa vida é a mentira (Leia Gn 3. 4). Eu e minha família já sofremos pela ação da mentira e eu posso dizer de “sentir na alma” que ela cheira a puro enxofre. Robert Browning diz: “O demônio é mais diabólico quando é respeitável”. E eu conheço alguns mentirosos veneráveis (Jo 8. 37-44). Umas das primeiras coisas que Paulo teve que vencer em seu ofício Apostólico foi à mentira de Elimas (aqui ele é descrito com anticristo, o inimigo de toda a obra de Deus. O semeador de joio). Um crente que não vence a mentira é um crente que semeia a injustiça no meio onde vive (parafraseando Montesquieu). A injustiça é o que de melhor atrasa a obra de Deus na terra, e um dia os mentirosos a exemplo de Elimas sentirão por operação divina os seus efeitos (At 13. 11/Ap 22. 15) A verdade divina limpa as sujeiras de nossas feridas. Arde de início, mas posteriormente nos faz sentir alegria (Hb 12. 11). A verdade que cura é uma verdade que verte de uma vida Cristã equilibrada. A igreja está cheia de pseudoprofetas, donos de toda a razão e verdade. O abrir de suas bocas, no entanto, só produz dor e confusão. Nesse caso, isso acontece por que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose que é ministrada. Alias, Richard J. Foster em “Celebração da Disciplina” diz: “Umas das mais importantes funções dos profetas Cristãos de nossos dias é perceber as conseqüências de várias invenções e de outras forças culturais e formular juízos de valor a respeito delas” (pág. 96 – Ed. Vida).
4. “... e óleo”.
Paz – Nada é melhor para dar alívio do que a paz. A sua ausência faz qualquer ferida doer ainda mais. Sem paz qualquer verdade divina nos seria um inferno para o entendimento. Saber de onde saímos, onde estamos e para onde iríamos antes de Cristo seria uma agonia pura. Dor é conseqüência da natureza caída. Todos nós ainda sentimos a dor da queda de Adão. Desde então andamos por aí procurando alívio, um lugar seguro. Cair na ótica Cristã é uma questão de cansaço. Caímos pelas estradas da vida por que cremos que podemos encontrar paz por nossos próprios méritos (I Cor 10. 12/Is 64. 6). O camarada sai do lugar de paz e vai achar paz aonde? Jerusalém significa “lugar de paz”. Jerusalém significa aqui o Éden. Não vamos atrás de alívio para as dores causadas por nossa queda, São Paulo diz em Efésios que o Alívio é que veio até nós: “Ele veio e anunciou paz a vocês que estavam longe e paz aos que estavam perto” (2. 17). Aquele que habitou entre nós, ao ascender aos céus, nos deixou sua paz. Ele trouxe a paz dos céus, por que todos que por ela procuravam caíram pelo caminho (Jo 14. 27).
5. “... levou-o para uma hospedaria”.
Transportar – O bom Samaritano não só fazia assistência social, ele fazia a verdadeira religião (Col 1. 13). Ele não só dava o pão, mas também fornecia o meio da pessoa sair da miséria. Tirar as pessoas do pecado e de suas conseqüências são efeitos imediatos do Cristianismo. Como é bom ao levantar de uma queda estar longe de onde se caiu. Faz bem à psique e para as perspectivas. Jesus disse para o ladrão da Cruz, que quando ele fechasse seus olhos e voltasse a abri-los estaria em outro lugar (Luc 23. 43/Jo 14. 3). Nunca foi a intenção de Cristo nos deixar aqui. Se deixar as pessoas na mesma condição que as encontramos faz parte de nossos planos, então não estamos vivendo um Cristianismo legítimo. E essa verdade está poderosamente viva nos hospitais e orfanatos das mais antigas ordens religiosas de origem Cristã. Ajudar é o meio mais poderoso de comunicar os ensinos de Cristo (Rm 12. 13).
6. “... No dia seguinte, deu dois denários (...) Quando eu voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver”.
Vida com Deus – Quem tem vida com Deus tem recursos para ajudar hoje, amanhã e sempre (Hb 13. 8). Só a comunhão com Deus pode nos dar a certeza de que seremos úteis aos outros amanhã como o somos hoje. Vida com Deus produz o que de melhor existe para mudar o mundo. Bem sabemos que muitas iniciativas vêm transformando a sociedade nesses últimos dias e enchendo a sala de muitos com decorações nacionais e internacionais. Mas, nada transforma mais o mundo que o amor de Deus. O amor é o melhor investimento e o que dá o melhor retorno. Algumas coisas não podem sofrer mudança por que o custo disso é muito alto. Um custo alto significa um grande risco e quem não têm muito para investir procura não arriscar. Numa série que escrevi sobre Colossenses (Recursos Inesgotáveis, comentário 39 – 16/12/2003. Visite também o portal ED – www.escoladominical.com.br - e leia a série completa) eu já havia tratado desse assunto que se harmoniza perfeitamente com esse comentário: “A construção básica do cristianismo é feita com amor, um amor que deve sempre existir abundantemente no que estamos construindo – relacionamentos –. Quantas vezes ejetamos na obra de Deus recursos de nós mesmos para a construção de relacionamentos, apenas por comodidade (preguiça). Por não gostarmos de orar, construímos relacionamentos com nossos próprios recursos. Se você é uma pessoa boa, deve estar pensando qual o problema disso. É simples, seus recursos não são inesgotáveis nem tão pouco renováveis. Começamos grandes amizades e irmandades que não podemos concluir, por precisarem de recursos maiores que nós mesmos (...) Nossa covardia brota da verdade básica de que usamos pouco dos recursos que Deus nos tem oferecido (Rm. 5: 5). Daí, haver na igreja tantos projetos inacabados, tantas pessoas decepcionadas (gente construindo com recursos de seus próprios corações). Toda rejeição é sinal de pouco amor e muita prudência, uma mistura perigosa para o crescimento do Reino de Deus. Quem tem em sua vida recurso de Deus, não ama de palavras, mas sim de fato (I Jo.3:18), com obras e de verdade”. O sacerdote e o levita tinham em suas vidas a marca principal da religiosidade vã, que é um excesso de prudência. Não digo que ela não é necessária, para o bem da verdade ela é, porém não mais importante que o amor. Deixar-se tocar por uma prostituta (v. 39) nos tempos de Jesus não era prudente para um Rabi, mas Ele o fez (Luc 7. 36-50). Por que aquela oportunidade revelaria Seu amor e o amor de Seu Pai por todos os necessitados. No Cristianismo autêntico o grau de necessidade regulamenta o uso da simplicidade e da prudência. Talvez não fosse seguro/prudente ajudar e nem tão pouco voltar, mas Ele não só o fez como o prometeu. Não digo isso a respeito do Bom Samaritano, digo a respeito de Cristo. Não seria bom para Ele estar entre nós, como sabemos não foi fácil nem agradável, mas Ele veio. Depois, prometeu que iria voltar mesmo levando em conta o que passou quando esteve entre nós (Jo 20. 7). Se não temos em nós O amor que nos leva a “passar por cima” (páscoa) nada podemos fazer pela igreja que Cristo nos confiou (I Cor 13. 1-3). Sem amor a “nova sociedade” (a igreja) não é melhor que a antiga. Quero terminar citando uma frase de Madre Teresa de Caucutá sempre presente em meu coração e que expressa a seguinte verdade: “Dê o melhor de você para as pessoas. E veja que nos final das contas nunca foi entre você e as pessoas, e sim, entre você e Deus” (Jo 6. 37; 17. 6 e 9).
Primavera de 2006.
Comentários
Postar um comentário