ANTIOQUIA, meu sonho de igreja (06).

ANTIOQUIA. Igreja com "i" Maiúsculo.

   Quando Barnabé surge no ambiente descrito para relatar as características da primeira igreja, ele nos é trazido por Lucas com a finalidade de não se atrasar para aquele que seria o seu compromisso mais importante: O de ser o modelo de um ideal. De uma igreja que verdadeiramente tem em comum todos os seus valores. Em tempo de edificar nossas vidas Lucas nos apresenta Barnabé como o nome, a personificação de uma doutrina que é possível de ser viabilizada entre os homens. Ele chega na hora exata de servir de abrigo seguro para a realização de um sonho de Deus para os homens.

   Nomes sempre serão importantes na igreja, por que igreja para ser verdadeira precisa acontecer sobre pessoas (Ap 2. 13). A individualidade não convém à igreja. Foi assim e sempre será (I Cor 3. 1- 9). E apesar de ser importante, Barnabé é apenas mais um nome envolvido nessa grande construção que edifica a todos os homens. Lucas usa Barnabé para endereçar todas as coisas que havia descrito sobre a comunhão da igreja. Ele faz isso para que não haja dúvidas. Não são paredes frias e grandes cinzentas que projetam valores divinos. Essas coisas se hospedam em corações humanos; tais valores só podem habitar em pessoas de carne e nunca em pedras.

   Falar de Barnabé é falar de uma igreja que edifica e transforma os homens. Que coloca sempre pessoas antes de coisas e que nunca se engana sobre as suas principais prioridades [At 4. 35a]. ANTIOQUIA recebeu a inconfundível herança divina que prega o crer no cuidar e no ser cuidado (v. 32). Infelizmente hoje, igrejas, quase sempre são vidros e fachadas de granito. E temo que em tempos não tão distantes, para se entrar em uma você deverá ter um crachá eletrônico [HID corporation], caso contrário deverá deixar sua identidade na entrada e ser acompanhado por um membro enquanto em suas dependências até o momento que sairá dela. Desde a sua fundação a igreja sempre teve onde se encontrar [5. 12], e para o bem da verdade, nem sempre foi fácil promover esse encontro. E em muitos países ainda hoje é difícil fazer igreja, isso é, reunir-se. E o direito que temos hoje em solo Brasileiro, em grande parte usamos para fazer templos caríssimos, que semanalmente estão quase sempre vazios [Viva o santo domingo! Salvador das igrejas].

    Vivemos um perigoso momento mundial, onde as denominações são o referencial do povo. Fala-se dessa, daquela e de acolá igreja que faz isso, aquilo e mais esse outro tanto e os nomes, referências de piedade e comportamento vão sumindo, se esvaindo. Hoje, se alguém quiser falar de piedade, ajuda humanitária, missões e discipulado, deve se dirigir a um desses "braços eclesiásticos" da igreja. Parece absurdo; para se fazer igreja, você precisa buscar auxílio fora dela. Nas chamadas associações interdenominacionais ou com quem trabalhe em tal regime. Tudo o que a igreja é, ela adquire com os homens, por isso, Jesus habitou entre nós e por isso a igreja é chamada pelo Seu nome [4. 12/I Pe 2. 21].

   Se um homem pode andar na presença do Deus Todo Poderoso e ser íntegro como Barnabé (Gn 17. 1), os demais que queiram agir sob mente dividida se tornam indesculpáveis (Tg 4. 18/Rm 1. 20). O coração de Barnabé só faz aumentar a gravidade do crime cometido contra a comunhão por Ananias e sua esposa. Alias, assim como no caso de Noé com o mundo, é Barnabé e sua justiça que os condena a morte (Hb 11. 7). Sem declarar sua atitude, os acontecimentos posteriores parecem à obra de um Deus monstruoso, sem coração e preocupado em lançar sobre a igreja uma doutrina que nem nós e nossos filhos poderíamos suportar (At 15. 10). O que pensou Ananias em seu coração não pode ser considerado aos olhos de Deus como comunhão. Ele pensou em comprar um papel no maior espetáculo da terra, sem, contudo, ao menos saber interpretar. E essa coisa de não saber qual é o seu papel está transformando esse lindo espetáculo num show de horrores.

   ANTIOQUIA era a igreja de pessoas saudáveis, imperfeitas, porém enriquecidas pela graça de Deus e dos homens. É certo dizer que o ocorrido com Ananias e Safira deixou Barnabé muito impressionado e alerta. E aos irmãos sob seu cuidado ele ministrou o perigo que há em buscar a Deus sem integridade de coração. Se uma coisa tinha de ser do jeito de Deus, ele era uma das pessoas mais indicadas para construir isso [11. 22]. Tudo em comum é bem mais que cestas básicas e cursos gratuitos de manicure e padeiro. Tudo em comum é enriquecer a vida de outros com meus valores agora transformados pelo Senhor (Rm 12. 2). O "que somos" enriquece bem mais do que o "que temos". Barnabé viveu todo o ideal de Deus, dando e recebendo. Não escreveu uma biografia, não manteve blog na internet e não construiu nada universal, internacional ou mundial. As pessoas que ele discipulou tiveram indubitavelmente mais visibilidade do que ele. Não há fotos dele, seu legado foi colocado todo sobre a vida de homens que saíram pelo mundo com uma vida transformada. Para tudo isso, ele não precisou adquirir nada em nome da igreja. Pelo contrário, ele vendeu um campo que tinha por sua propriedade; Jesus lhe oferecia campo maior; o coração dos homens.

Barnabé vendeu o campo, mas é claro, reteve consigo as sementes. Ele as plantou em ANTIOQUIA e elas cresceram e ainda continuam a gerar grãos que alimentam o sonho de um povo que crê numa igreja de todos, feita por todos e para todos. Igreja [Barnabé] é vida, religião [Ananias e Safira] é adubo.

                                                                                                                                                                                      Ney Gomes. - 2009

*Tudo o que passou é experiência. O agora é relacionamento e o que está por vir é desafio.

 

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