Sementes, Mulas, Terras e IGREJA.

Sementes, Mulas, Terras e IGREJA.

"E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo. Por isso, é que foi declarado: "Quando Ele subia em triunfo às alturas, levou cativos muitos prisioneiros e distribuiu dons aos homens". O que significa "Ele subiu", senão que também desceu às partes mais baixas da Terra? Aquele que desceu é o mesmo que semelhantemente subiu muito além de todos os céus, para preencher tudo o que existe. Assim, Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres". (Efésios 4. 7- 11 – B. King James)

Após a guerra civil americana, ver um negro dono de terras, mulas e sementes, era o mesmo que ver um negro liberto, justiçado. Sua liberdade cheia de conteúdo produzia frutos de justiça e esperança de dias melhores. Se uma pessoa não está na cadeia produtiva, sua liberdade é uma farsa, um processo mal acabado; uma abolição brasileira. Não quero entrar no mérito Histórico do que foi feito lá e aqui, pois sei que lá, tudo também não foi tão perfeito. Mas, por causa disso, sou a favor de qualquer mecanismo que traga uma equivalência racial. Na verdade, cotas em universidades é uma esmola perto daquilo que roubamos dos negros nesse país.

A liberdade para ser verdadeira não pode ser vazia, sem efeitos práticos. A verdadeira liberdade emancipa (palavra que aprendi a associar ao Evangelho lendo os textos do Reverendo Ariovaldo Ramos) o indivíduo e lhe oferece condições de ser um agente produtor, de gerar riquezas (espirituais). E é aqui que a terra (40 acres), as mulas e as sementes se igualam aos dons de Cristo. Pois os dons de Cristo estão para a liberdade Cristã, assim como essas coisas descritas estão para a verdadeira abolição.

Uma pessoa não pode se considerar livre por só levantar a mão e se decidir por Cristo. Isso é o início de um processo que se finaliza com a descoberta de uma vocação. E nem considerar que os frutos sejam tudo, pois eles representam as bases do que será feito (Gl 5. 22, 23). Liberdade definitiva é um coração convencido em servir com a própria vida os interesses de Cristo. É CRISTO que enche todas as coisas, que dá o conteúdo necessário para uma vida que edifica e prepara todos os demais santos. Se isso que digo era um referencial para contar o número dos que verdadeiramente foram libertos, o que significa igreja é de fato bem reduzido. O cativeiro não era só espiritual, era também social, cultural, emocional e sentimental. Sei que o assunto de Efésios é igreja (eclesiologia), sendo assim, me sinto seguro em minha ignorância para afirmar que essa verdade era a bússola ministerial de Paulo e dos líderes dele gerados.

Como bem sabemos, Paulo está preso, e também preocupado com as definições que outros têm sobre liberdade (Liberdade não é santidade. Mas, só os livres podem se santificar e só os santos permanecem livres). Ao escrever essas palavras, como que falando a livres, espera contribuir em muito para o entendimento perfeito sobre o que isso significa de fato (Rm 12. 1- 8). Uma vez que estamos em Cristo, somos verdadeiramente livres e isso se manifesta no exercício pleno de nossa vocação Nele. O Apóstolo está preso, mas, suas cadeias são ineficazes em cercear sua devoção e contribuição a Igreja de Deus. E para deixar essa verdade bem ilustre, poderia eu esquecer as coisas que Watchman Nee escreveu de sua prisão?

Sou sabedor das correntes teológicas que circundam essa passagem de Efésios. E creio que o 'descer' se refere a sua experiência humana. Jesus viu o quanto eram os homens vazios de amor, coragem, franqueza, lealdade e coisas desse tipo. Em sua carne tomou conhecimento de tudo aquilo que era necessário haver dentro de nós. Então quando subiu, deixando para trás o diabo sem casa, deu Ele de tudo o que havia para nós em Seu coração e ânimo (Jo 16. 7). Sua vida foi derramada em nossa vida, para que a vida que viéssemos a viver fosse a Sua vida. Dessa forma não seria mais a nossa vida, mas, a vida dele que está dentro de nós derramada pelo seu Espírito (Fl 1. 19). E é em nós que Cristo continua sendo tudo o que foi e sempre será; Apóstolo, Profeta, Evangelista, Pastor e Mestre. Essa verdade é coisa maravilhosa demais para nosso entendimento. Munidos dessa vida, somos perfeitamente capazes de manter a unidade do Corpo (vs. 1- 6) e ao mesmo tempo promover crescimento do mesmo (vs. 12- 16).

Muitos dizem que são livres, mas, ainda não descobriram a vida de Cristo que habita dentro de si. O ministério é a vida de Cristo que acontece de dentro de nós, que se exterioriza e edifica outras pessoas. E não existe outra forma de se viver em Cristo, senão pelo próprio Cristo. Que habita em todos, por meio de todos e para todos. E Nele, todo o corpo, ajustado e unido pela liberdade, cresce e edifica-se a si mesmo em amor. Essa verdade é a manifestação do mistério que estava oculto desde o "começo das idades"; que é Cristo cuidando de si mesmo e a si mesmo alimentando, isso é, Cristo está vivo. E a prova disso, é que ninguém deixa de cuidar de si mesmo, odiando seu próprio corpo. Vivo por nós, em nós e para nós.

Liberdade é Cristo vivendo em nós; a riqueza que nos emancipa!

Ney Gomes – 05/12/2009.