Evang. Emocional - Pedro. O Pastor dos Grandes Peixes.
Evangelho Emocional.
PEDRO. O PASTOR DOS GRANDES PEIXES.
Texto para Meditação: Gl. 2. 11- 14
Parece que de uma forma natural, Deus fez de mim defensor de Pedro. Não foram poucas às vezes que escrevi sobre ele, contrariando a corrente de vinte séculos de história. É preciso pensar as atitudes de Pedro pela ótica dos acontecimentos de seu tempo, de suas urgências e necessidades. Quando de seu encontro com Paulo em Antioquia, algumas coisas parecem ficar mal explicadas. E somente acrescidas de outras passagens e relatos, é que podemos perceber que Pedro não é condenável em sua atitude (A Bíblia responde a própria Bíblia).
Precisamos pensar nas palavras de Paulo em Gálatas sobre duas grandes verdades, e delas chegar à conclusão lógica. Primeiro: Paulo era pessoa não agradável em Jerusalém, sua dita traição, ainda não havia sido digerida pelos fariseus. Por isso, Barnabé fez bem em lhe enviar de volta para casa, onde permaneceu por mais ou menos onze anos. E o próprio Paulo afirma ter estado em Jerusalém de forma particular, como quem fala a poucos. Se comparado a um jogador de futebol, podemos dizer que ele não tinha nenhum "preciosismo". Seu nome jamais surgiria para integrar a "seleção" apostólica de Jerusalém. Mas, nem por isso, ele se achava menos capaz (I Co 15. 10). Além disso, Paulo começou seu ministério bem longe de Jerusalém, e qualquer atitude íntima, vinda daquela comunidade, de princípio lhe seria mesmo estranha. Ele não está errado em reagir como reage; errado é julgar as motivações de Pedro de forma tão rápida. Mas adiante, o próprio Paulo se torna mestre da verdade que se faz necessária aos que vivem em comunidade; respeitar a consciência alheia (Rm 14. 1- 8). Paulo depois entendeu que Pedro agiu de acordo com sua consciência. Uma consciência em muito afetada pelo Evangelho (Rm 12. 18). Alias, pelas mesmas razões que Pedro se afasta dos gentios, mais pra frente, Paulo circuncide Timóteo e raspa a cabeça em voto, por ocasião de sua ida ao templo (At 16. 3/21. 17- 26). Para proteger a consciência ainda imatura dos cristãos de origem judia (Rm 14. 19- 21).
O ministério de Pedro havia dado aos gentios, importantes acréscimos, e ele julgou que se permanecesse com eles à mesa, em nada mais acrescentaria. Pelo contrário, isso iria diminuir da construção que ele participava entre os judeus (At 11. 2- 18). Alguns benefícios da morte e ressurreição de Cristo, ainda não haviam sido bem esclarecidos (At 15. 11). Por conta disso, os apóstolos andavam num terreno muito restrito e irregular. Se para se proteger e proteger Timóteo, Paulo fez o que fez. Por quê Pedro, Barnabé e outros não podiam se retirar da mesa gentia com a chegada dos judeus de Jerusalém? Se aceitarmos por que é verdade que a Bíblia é um livro progressivo, vamos entender que ali, naquela hora, todos eram repreensíveis. Isso é, se houve ali, alguma coisa que hoje, se julgue pecado. Se Pedro defendia a consciência dos judeus que ali chegavam, Paulo por sua vez, defendia os gentios que ali já estavam. Sua atitude era perfeitamente aceitável por aqueles que sem dificuldades andavam pelas ruas de Jerusalém. Do mesmo modo, se Paulo nada fizesse, pareceria ele mesmo um estranho aos nativos de Antioquia.
Quanto à solução da questão, Pedro parece não se manifestar, deixando tudo para o Espírito e o tempo. Ora, sabemos que a aposta de Pedro se concretizou; em coisas que Paulo diz em Coríntios e Romanos. Em segundo lugar, podemos afirmar que Pedro sabia que em relação aos costumes, os gentios não tinham grandes restrições. De modo, que não seria para eles grande ofensa, ele que era judeu, se levantar dentre eles, e se achegar aos seus. A questão surgiu justamente de um gentio filho de judeus dispersos. Isso, Pedro também levou em conta, quando se levantou. Talvez, só não tinha percebido o quanto Paulo era judeu. Seu silêncio testifica do quão grande Pastor ele é. Suportando a carga de inimizade contra ele, para não gerar mais tumulto. Se Paulo não entendia suas motivações, ele entendia perfeitamente as de Paulo. Mais tarde, se refere a ele, como "amado irmão" (II Pe 3. 15). Dando total crédito as suas cartas e ensinamentos. Se acusarmos Pedro por defender a imatura consciência judaica, devemos sem parcialidade, acusar Paulo pelo mesmo erro em relação aos gentios. Pedro age para defender tudo o que ele acreditava que Jerusalém ainda poderia ser. Não estava ele defendendo o estilo e pensamento dos líderes daquele tempo. Ele defendia a casca do ovo. Sua preciosa carga, ainda tão frágil. Num futuro não longe daqui, Paulo defenderia essa mesma comunidade com volumosas quantias financeiras. Arrecadadas por ele em todas as igrejas que orientava. Nada como o tempo, para fazer com que alguns paralelos se encontrem.
É evidente que toda a questão em torno dessa refeição, aconteceu por que Paulo fez forte associação entre as protetoras atitudes de Pedro e as inúmeras tentativas de alguns em escravizar em ritos os "novos cristãos". Todavia, uma coisa nada tinha haver com a outra. Para Pedro, isso não passou de um mal entendido. Mais tarde, ele diz o que pensa de Paulo em seu íntimo: "Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos". Se Pedro estava só entre os judeus, sabia que podia ficar tranquilo. Os gentios tinham um verdadeiro pai e pastor. Um homem constante em sua mensagem, cuja sabedoria se mostrava sempre firme e focada. Pedro sabia que poderia se dedicar à tarefa difícil de lidar com a comunidade judaica, sabendo que por causa de Paulo, não teria problemas com os gentios.
Dois mil anos depois, a igreja do "pescador" continua lançando redes ao mar. No entanto, perdeu a capacidade que Pedro tinha em lidar com o debater dos "grandes peixes" que já se encontram dentro das redes (João 21. 11). Que lê, que entenda!
Ney Gomes, 23/09/2011.
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