Conto - José, o Copeiro e o Padeiro!
JOSÉ, O COPEIRO E O
PADEIRO*.
(E
o Teatro da Providência Divina).
Não
deveria! Mas
as horas, os espaços, a necessidade de compartilhar ambientes, coisas,
palavras; e pronto! Você acaba se tornando amigo da pessoa (Mt 26. 50).
Eu creio que foi o que aconteceu
com o “copeiro” de Faraó. Compartilhando a cozinha e os corredores do palácio,
ele por fim se tornou colega do
padeiro. Não demorou e os dois passaram a ser mais que apenas funcionários da
casa real. Se há uma literatura espiritual preocupada com o poder das amizades,
esse livro é a Bíblia (Jo 15. 14). Amigos são necessários, mas certas amizades
podem ser perigosas e nocivas ao que cremos e herdamos como herança espiritual e moral (I Sm 18. 1/I Rs 12. 10- 13). Um amigo pode nos aperfeiçoar em um trabalho ou pode nos arrastar
juntamente com ele para a lama do mal feito (Sl 1. 1). O Livro de Provérbios sempre fala desses riscos e males, e a própria
pessoa de Deus chama Abraão de amigo (Is 41. 8).
O padeiro, que se aproximou do copeiro
interessado no acesso que poderia conseguir a adega real, fazia de tudo para agradar o novo amigo. Uma farinha,
um pão, um biscoito, sempre tinha um agrado desinteressado (Sl 26. 10/Pv 19. 6).
Claro, o copeiro retribuía o favor, em litros, muitos deles.
Um ditado
diz que os homens bêbados falam o que pensam quando estavam sóbrios, e numa
manhã, de cara amassada, ele atrasa a refeição matinal de Faraó (Pv 20. 1). O
monarca, também chamado de “deus na terra”, logo lhe chama a atenção com
grosseria. Mas naquela manhã, a bebida ainda não tinha ido embora da sua
cabeça, e com ousadia, ele ofende Faraó. Dê vê-los sempre juntos pelos
corredores, Faraó deduziu, que seu copeiro, o chefe do seu serviço, lhe
fornecia abundante bebida (Pv 12. 26). Então, mesmo sem dizer nada, ele também
experimenta da momentânea fúria do rei. E ambos, ele e o padeiro são enviados
para a prisão (Gn 40. 1).
Nem todas as pessoas são de confiança, por isso
a palavra amigo foi inventada (Pv 27. 17). O copeiro era uma pessoa boa e Faraó
se lembrou disso tempos depois. Faraó sentia falta da integridade e zelo de seu
serviço. Não era somente a bebida, era a paz que ele sentia quando recebia o
copo. O copeiro era mais que um serviçal, era um amigo leal (Pv 22. 11).
Então quando chegou seu aniversário, ele
resolveu presentear a si mesmo, mandando buscar o amigo que estava preso (Pv 21. 1). Com um palácio cheio de
convidados e estranhos seria bom ter um rosto de confiança para olhar (Pv 27.
18). Mas o padeiro não teve a mesma sorte. Ele seria um exemplo para todos os
nobres de perto e de longe, de que Faraó não podia ser ofendido sem
consequências (Pv 18. 6; 19. 29; 25. 5).
E tudo
aconteceu como José falou. José por ocasião da interpretação dos sonhos lhe pediu um
compromisso de amigo, mas o copeiro havia aprendido a lição do cuidado com as
amizades. José era um estranho, hóspede e funcionário da prisão e nem egípcio
era (Pv 26. 17). Por isso, achou por bem não se arriscar numa nova amizade (Pv
28. 19). Era preciso se aquietar e ter a certeza que o coração de Faraó havia
esquecido a mágoa (Ec 10. 4).
Além do mais, a amizade com o padeiro lhe
deixou no coração a intoxicação da
deslealdade. Sentimentos
podem ser como as “moscas” que
estragam os melhores perfumes (Ec 10. 1). Passados
dois anos, um fato fez do copeiro alguém ainda mais próximo de Faraó.
Sonhos perturbadores e enigmáticos. Começou como coisas sem sentido e razão de
ser. Uma chuva fina e constante que anunciava a chegada de uma verdadeira
tempestade. Nesses dias, o copeiro quase veio morar nos aposentos do rei. Pois
sempre que sonhava, acordava assustado e buscava alívio na bebida (Pv 31. 4).
Mas o tempo foi passando, a bebida não fazia
mais efeito e os sonhos pareciam mais reais a cada noite. Foi então, que
parecendo ter acabado, eles começaram a se repetir sem parar, noite após noite,
de maneira ainda mais perturbadora. Foi quando Faraó recorreu a plantas
medicinais, ao seu harém, aos sacerdotes e nada. Mas um dia, com irritação
conhecida ele convoca todos os sábios e magos do Egito (Pv 25. 2). Era o mesmo
que declarar estado de calamidade pública. Um soberano sem paz e sem sono é o
mesmo que um país sem futuro. Nesses tempos todos sabiam que se falhassem, a
demissão poderia ser o mesmo que a morte. Então, não querendo ser vitimado mais
uma vez por conta de terceiros, o copeiro decide arriscar e se apresenta com
uma solução.
Os mais nobres e os sábios não tinham nada a
perder e tudo a ganhar, e não se pronunciam diante do atrevimento do copeiro.
Muito raramente o copeiro falava, na verdade, desde os tempos em que estivera
preso. Mas seu serviço e cuidado passaram a ser excepcionais, quase num nível
paterno (Pv 9. 8b). Faraó já tinha por ele um sentimento muito amigável.
Ele sabia que o copeiro se ausentava das futricas palacianas e das conversas de
bastidores, e por causa disso, não encontrou dificuldades em lhe dar grande atenção
e credibilidade.
Ele falou do jovem hebreu preso na masmorra de Potifar, de sua incrível
habilidade de ler os sonhos (Gn 41. 13). Rapidamente ele foi introduzido na coorte e com confiança se prostrou
reverencialmente a Faraó. Sua pele mais clara evidenciava que era estrangeiro,
mas sua fala parecia ser bem nativa, construída
no coração do Egito. Naquele meado de manhã, o copeiro sentiu um peso sair de
suas costas. É que ele tinha pago duas dívidas de uma só vez. Ao
rei, por poupar sua vida e a José, por lhe fornecer preciosa paz em dias
difíceis (Gn 40. 16ª).
José falou e Faraó ficou tão contente e
satisfeito, que lhe tornou governador de todo Egito, com plenos poderes para
fazer o que fosse necessário. Todos foram para suas casas felizes, com suas
cabeças poupadas da forca e satisfeitos com o favor dos deuses (Gn 41. 37).
Dias depois, o copeiro procura José pelos
corredores do palácio. Eles trás em suas mãos uma bem trabalhada taça de prata; uma que Faraó deixou que
ele pessoalmente escolhesse de seu tesouro particular (Gn 41. 42). Ele disse a
José do seu medo após ser liberto e gentilmente reclinando-se em sua frente
pediu que ele aceitasse a taça de prata como desculpas pelo seu erro e
esquecimento. Foi nessa ocasião que José lembrou que nunca soubera o nome do
copeiro.
– Qual seu nome? Pergunta José.
– Seu servo se chama Teremun! (Que significa em egipcío, “amado por seu pai”).
O copeiro se levantou com a ajuda das mãos de
José e tomou seu caminho. José começava a beber do maravilhoso e doce vinho da promessa feita a Abraão (Gn 15. 14). No
fundo do seu coração uma Voz lhe disse
que aquela taça de prata ainda lhe serviria para um propósito muito especial.
E até esse dia, não houve um dia sequer em que
essa taça não estivesse sobre a mesa de José, figurando o poderoso teatro da providência divina (Gn 44. 2/Rm
8. 28).
"*José, o Copeiro e o Padeiro" é uma obra de ficção criada por Ney Gomes. Para alertar sobre o perigo das amizades 'erradas' que não respeitam princípios, valores morais e espirituais. NENHUMA parte dessa obra pode ser usada ou reproduzida sem a autorização do autor.
Praia Brava - Angra dos Reis, 30/07/2016
twitter@neygms
twitter@neygms
Comentários
Postar um comentário