I João, Cristandade Simples (Introdução).

Ruínas de Éfeso, Turquia.

I JOÃO – CRISTANDADE SIMPLES.
(Reeditado em 2017)


LIGANDO OS PONTOS (Introdução).

Se esse João é mesmo o “discípulo amado”, logo, ele é o filho de Zebedeu e Salomé, irmão de Tiago, das bandas da Galileia. A teologia nada sabe sobre seu nível de cultura, e o que sabe, é que talvez, apesar de não ter recebido uma educação mais apurada, não era um estranho a maioria dos líderes do templo. Seu pai tinha uma pequena empresa de pesca, e sua mãe, disso, conseguia tirar uma constante oferta para o ministério de Cristo. Como sabemos João e Tiago pareciam ter uma personalidade explosiva. Mas, o que se esperar de duas crianças criadas no meio de homens que vivem da força do braço, do arrastar de redes. Sua mãe, uma mulher piedosa, costumava ser bem ousada quando o assunto era o bem estar de sua família. Num momento peculiar, solicitou a Jesus que seus filhos, em seu Reino, tivessem “um lugar privilegiado ao sol”. Disso, observamos que ela os criou para não estarem muito preocupados com a opinião alheia. Sabemos que Jesus mantinha constante vigilância sobre eles e Pedro. No entanto, com o passar dos tempos, João se torna para Jesus, numa pessoa de confiança, e a ele é entregue a guarda de Maria. Segundo a tradição, João permaneceu em Jerusalém muitos anos. Tempo esse, em que junto com Pedro e Tiago adquiriu a fama de “coluna da igreja”. Suportou toda a hostilidade das primeiras perseguições, viu o irmão ser morto, Pedro ser preso e liberto. Viu Estevão ser apedrejado, centenas de irmãos e irmãs, como cães serem arrastados e maltratados pelas ruas. Aviltados, caluniados, espancados, humilhados e ridicularizados. Se é que ele mesmo também não o foi por várias vezes. Mas, anos depois, quando Paulo fala de sua ida a Jerusalém, lá estava ele, no sustento do que ainda estava de pé (Gl 2. 9).

Sabemos que ao sair de Jerusalém, João fixou residência em Éfeso. E eu não estou bem certo, mas, a teologia (ou uma parte dela) afirma que Maria foi com ele. Prefiro acreditar que ele esperou ela morrer para ir. Isso justificaria o fato de ter sido um dos últimos dos doze a permanecer ali tanto tempo. Naturalmente, ele assumiu a liderança da igreja naquela região e com humildade se apresentava aos irmãos como o presbítero. Nesse tempo não encontramos restos do homem que ele foi quando jovem na palestina. E por causa disso – dentre outras coisas – suas palavras nos são tão importantes.


            Dentre outras coisas, o que João tem a dizer é importante, por ser ele a última voz apostólica. Isso lhe confere o título de mais experiente observador. João viveu os mais intensos anos de Militância Cristã, aproximadamente 60, do primeiro e intenso século. Como se não nos bastasse à autoridade conferida por Cristo, podemos desfrutar da experiência real de construir algo que deu certo e que ainda inspira gerações. 60 anos são 720 meses de liderança, 21.900 dias de orações, 525.600 horas de aconselhamento, pregação e ministração de ensinos, 31.536.000 segundos fazendo igreja. Dos 60, metade ou quase isso, passou construindo em meio à desconstrução. Por isso, seu Evangelho é tão diferente dos demais. Ele não está deixando um histórico para a posteridade, e sim, um manual de vida baseado na sua pessoal relação com Cristo, com os demais Apóstolos e com a igreja. Podemos ver por suas palavras, que construir comunhão é algo que carece de esforço pessoal. Mas, não para crer em novas doutrinas, e sim, naquilo que já nos foi ensinado.

            De I João, carrego um dos ensinos mais importantes de minha caminhada, que em 2017 completa 20 anos. E é aquele que ensina que os seus mandamentos não são pesados (5. 3). Além das coisas que todos os crentes enfrentam, posso dizer (por que é bom lembrar) que enfrentei o pior do coração dos homens religiosos. E isso, ainda me custa muito caro. No entanto, são elas que me possibilitam falar de simplicidade. Pois como diz um antigo ditado europeu: “Só entendo as coisas simples, depois que me envolvo com as complicadas”. Talvez, também tenha sido João que disse isso.

Ney – Verão. 09 de Fevereiro de 2011.

"Se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado a nossa esperança no Deus vivo". 1 Timóteo 4.10

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