Poético - Gatos Demais Para Pouco Balaio!


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MUITOS GATOS PARA POUCO BALAIO.

(Crônica poética sobre amor mal administrado)

                Quando no fim de todos os dias descia na Piraquara, ele era Carlos, casado com Joana. Bom filho, pai exemplar, vizinho simpático, amigo leal. Mas em algumas muitas noites, ao sair de casa, no fim da Professor José Rodrigues, ele era “Bebeto”, apaixonado por Ritinha, moradora do Cosme e Damião. Carlos viveu assim por anos, no equilíbrio de um gato sobre telhados. Mas, à medida que o amor por Ritinha crescia, os telhados se confundiam.
            Às vezes, Bebeto descia na Piraquara, Carlos subia no Cosme e Damião. Joana não reconhecia seu marido, Ritinha não sabia quem era seu amor. E telhado algum sabia que gato estava a pular por ali. De uma identidade para outra e de um amor para outro, como nos telhados, cada dia ficava mais difícil de voltar, de pular, de ser inteiro.
            Um dia, cansado e sem saber quem era, Carlos e Bebeto pularam na frente do 383 Realengo x Tiradentes, na Nogueira de Sá, bem na curva dos cabritinhos*.
Eram gatos demais para um balaio só!


Ney Gomes. 10/01/2018 – Twitter@neygms
 “Teólogos escrevem sobre Deus. Mas quanto aos poetas, só Deus sabe”

*Todos os logradouros são de Jardim Novo, Realengo.






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