O Problema do Desconforto (Pv 14. 4).



O Problema do Desconforto.
Uma leitura de Provérbios 14. 4

“Não havendo bois o estábulo fica limpo,
mas pela força do boi há abundância de colheita”.
(Prov 14. 4 – ACF).

Foi em Realengo que aprendi, não faz muito tempo, quando era ainda criança, o valor das escolhas e suas consequências. Éramos uma família tradicional do subúrbio, de modo que o dinheiro era contabilizado. Mas sua ausência nunca atrapalhou a generosidade da minha mãe, que quando podia, levava eu e minha irmã mais velha para comprar um presente. Ela sempre dizia: o dinheiro é pouco! É um presente para cada um.

Bem, eu tinha a minha própria interpretação disso, e sempre voltava com duas ou mais coisas nas mãos. Bom, e foi assim, diante da administração firme e generosa de minha mãe que eu aprendi o valor das escolhas. Salomão, em Provérbios nos pinta o quadro não de crianças aprendendo o valor das decisões, mas de adultos que já estão diante delas. Em Provérbios 14 ele nos vai fornecer o perfil que prospera e o perfil que empobrece, nos afirmando que em se tratando de leis espirituais não há meio termo. Ou é ou nunca o será.

Provérbios 14 promove uma sequência perfeita de versículos, onde ideias são colocadas em lados opostos para reafirmar o valor das escolhas. Tal sequência parece apenas ser quebrada por um versículo, o 4. Esse versículo abandona o protagonismo das pessoas e leva para o palco do entendimento os bois. O boi, a força motora da produção agrícola, era um animal, que por fim, como com um trator, precisaria de uma constante manutenção. Comida, bebida, remédio, cuidado e higiene. Cuidar de bois é uma coisa naturalmente perigosa, fedorenta e custosa. Essas últimas 3 coisas se traduzem perfeitamente em desconforto.

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Quem deseja algo, precisa estar preparado para enfrentar tempos e momentos de desconforto. Se quer um cão, ele virá com um canil que precisa ser limpo. O passarinho que canta com uma gaiola cujo jornais precisarão ser trocados e o gato, ora, a areia de sua caixinha deve ser renovada com frequência. Tem gente que quer o céu, mas não quer suportar os irmãos. A limpeza, a manutenção, a oposição, o antagonismo de ideias e o contraditório, muitas vezes virá embutido naquilo que de melhor desejamos.

“As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas”. (Mat 25. 3, 4).

Quem evita os desconfortos está no caminho para a derrota. É como um homem, que desejoso de ter muitos filhos, escolhe um outro homem para casar, por que não suporta o muito falar das mulheres. A mesmíssima coisa, o Mestre Jesus vai nos ensinar em uma de suas parábolas (Mat 25. 1- 9). Jesus nos ensina que gente que vai para o céu, que é feliz, que prospera, que é bendita, é gente que sempre leva algo consigo, ainda que isso lhe seja por um tempo, desconfortável. Derek Kidner afirma em seu comentário de Provérbios: “Arrumado, porém seu valor! A boa ordem pode chegar ao ponto da esterilidade...” (Pág. 102 – Série Cultura Bíblica. Ed. Mundo Cristão). O que Derek entendeu é que o pavor de lavar os pratos faz a pessoa não querer a refeição.

Cristão é aquele que carrega um algo a mais, pelo amor aos irmãos, por sua comunidade, por causa da identidade coletiva que temos em Jesus. O Cristianismo, já nos dizia C. S. Lewis não é uma religião de conforto a curto prazo (Luc 9. 23). Estar em estado de alerta em todo tempo é algo desconfortável, e é o que experimentamos todos os dias em nosso viver, em nosso cotidiano (Mat 10. 16). Carregar em todo tempo, sem descanso, prudência, simplicidade, cautela e paciência. Coisas que parecem nos fatigar apenas de enumerá-las (vs. 17- 19).

“Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado”. (II Co 12. 15)

Tanto Jesus, quanto Salomão, nos ensinam que não terá sucesso aquele que foge de algo por que isso lhe é desconfortável (Jn 1. 1- 3). As pessoas podem ser desagradáveis em boa parte do tempo, presencialmente desconfortáveis, vocalicamente amargas e sentimentalmente confusas. Mas, João nos diz, categoricamente, que aquele que não suporta (ama) o seu irmão, o amor de Deus neste não permanece. E se o amor de Deus nele não está, esse permanece na morte (I Jo 3. 14- 16). Gente que não ama gente, é o mesmo tipo de gente que não quer limpar celeiros, que não quer carregar oléo extra e que não quer o desconforto de vigiar a si mesmo! Pessoas assim, fazem um péssimo tipo de igreja, é que como Diótrefes, acham “outras gentes” um estorvo! (III Jo 9).

Ser feliz, ser próspero e ser coluna de igreja significa estar disposto a suportar desconfortos. Cristo fez e nos mostra que o é possível fazer também (Rm 15. 1- 3/Gal 6. 1- 3). Judas era um exemplar legítimo de ser humano desconfortante. Mas lá estava ele com Jesus, até a última ceia. Jesus sabia, que Judas era só o primeiro de muitos que Ele teria de suportar, para fazer a vontade do Pai ser realizada (Rm 8. 29). E qual de nós, está confortável para negar isso?


Ney Gomes. 18/04/2018 - Twitter@neygms
"Se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado a nossa esperança no Deus vivo." 1 Timóteo 4.10





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