Poético - Felizberto. O Engolidor de Dores.
FELIZBERTO. O ENGOLIDOR DE DORES.
Em quase todos os fins de semana Felizberto podia
ser encontrado dormindo nas cadeiras da recepção da UPA, perto de sua casa.
Nas segundas, sentava na praça da cidade e ficava
por observar as pessoas que por não encontrar emprego, ficavam ali, desoladas.
Nas terças, ele assistia as reuniões do AA, sem
que nunca tivesse bebido uma gota de álcool.
Nas quartas, ele saia com um grupo de uma igreja
católica para dar comida a pessoas bem pobres que moravam não muito longe dali,
debaixo de um viaduto.
Nas quintas, ele auxiliava um pastor que pregava
para presos numa cadeia pública do outro lado da cidade.
Nas sextas, costumava andar entre as pequenas ruas
do cemitério da cidade. Gastava tempo olhando o choro das viúvas e dos órfãos.
No fim do dia Felizberto voltava para casa, as ruas estavam cheias de músicas,
perfumes e gente animada. Aquilo era um tormento.
No sábado depois de acordar (e era bem tarde por
conta dos remédios que ele tomava), ele ia para a UPA.
Felizberto vivia por engolir as dores dos outros,
para não ter que engolir as suas, sempre mais terríveis, sempre mais presentes.
NeyGomes. – 18/02/2020 - Instagram@neygomes21
“Teólogos
escrevem sobre Deus. Mas quanto aos poetas, só Deus sabe”.
Comentários
Postar um comentário