Poesia - O Amor é Liberdade!

 Bem vinda Primavera 2020!

Imagem do Morro do Macaco, RJ.
imagem extraída da internet.

O AMOR É LIBERDADE!

Ritinha era prisioneira no último barraco da favela, do ponto mais alto, como numa torre de marfim, dos belos contos infantis, como na história de Rapulzel. Cativa de Maldomiro Oruam (assim ele exigia ser chamado. Pois dizia ele, ser descendente de um importante líder tribal de Angola), chefe do morro do Galo Seco, terceiro no comando de uma das maiores facções do Rio. Oruam amava Ritinha, que só tinha olhos para Carlinhos, que morava no beco dos periquitos. Rapaz trabalhador e estudioso, cheio de virtudes, de uma família evangélica e antiga daquela favela.

Ritinha era linda desde menina e na adolescência foi feita prisioneira dos prazeres de Oruam. Que fazia cara de santo, mas que todos sabiam era um assassino cruel e mentiroso. Quando ficou mais velha, e encorajada pelo amor de Carlos, Ritinha planejou fugir numa noite sem lua.

Imagem com recortes de violência em favelas.

Então na última noite da minguante de março, de posse das poucas roupas que tinha, Ritinha fugiu. Combinou se encontrar com Carlinhos na viela do Gamba. Uma chuva forte caía também naquela noite, lhe deixando mais escura ainda. Um olheiro do morro avistou eles e passou um rádio para Maldomiro Oruam, que ás pressas e de fuzil no peito, desceu correndo as escadarias e desesperado de paixão. Na grande escadaria que dá nome ao morro Oruam matou Carlinhos com um tiro de pistola na cabeça e a queima roupa. Correu mais um pouco, e mais abaixo, na rua Custódio, paralela ao asfalto, com olhos marejados e de fuzil na mão, matou Ritinha. A água da chuva que descia das escadarias fazia um caudaloso rio e a essas águas se juntou o sangue de Ritinha, iluminada pela fraca luz dos poucos postes.

Seu sangue grosso e venoso, com dificuldades se misturava a água. E como em rios que não se misturam, parecendo cabelos vermelhos, iam juntos ao bueiro do outro lado do asfalto, já fora do morro. Naquela noite sem luar, Ritinha foi tudo o quis ser, de um jeito que nunca pensou, mas que sempre desejou. Naquela noite Ritinha foi livre, sua alma estava livre. Seu amor, agora era pura liberdade!

 

Ney Gomes. 21 de Julho de 2019.

“Teólogos escrevem sobre Deus. Mas quanto aos poetas, só Deus sabe

 

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