Sociedade - DEUS ENTRE HOMENS E MENINOS!
DEUS ENTRE HOMENS E
MENINOS!
“Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos;
mas que é isto para tantos?” (Jo 6. 9)
O que seria da vida sem
a arte?
Foi
o poeta Ferreira
Gullar que afirmou: “A arte existe por que a vida não basta”. Isso
significa que sempre que possível a gente coloca beleza nas coisas. Nas
comidas, nas letras, nas roupas, em todo lugar. Arte é a habilidade de colocar
beleza e sabor onde coisas precisam acontecer. Friedrich
Nietzsche disse que a vida sem música seria um erro, ele também
disse que temos
a arte para não morrer da verdade.
Verdade é que sempre que possível a gente coloca beleza nas coisas para fazer a vida ter um gosto de coisa especial. O Evangelho não foge a essa regra dos homens! Por vezes, ele é tão adocicado artificialmente que seu verdadeiro sabor se perde no meio de tantos temperos, de tanto corante e de tantos confettis (visto nos carnavais de Roma, que eram enfeites de açúcar). Misturar poesia com verdades é sagrado da atividade humana. Mas às vezes, essa mistura faz perder o sagrado de um modo nocivo ao exercício das dietas.
Deixando
de lado toda essa mistura doce e colorida, percebemos a verdadeira mensagem embutida
na “multiplicação dos pães e peixes”.
Quantas canções, homílias e poesias fantásticas já não foram construídas com
essa passagem Bíblica? Acho que o suficiente para viciar toda à nossa maneira
de enxergar o texto! Ora, se “Pasárgada” é uma possibilidade por
que eu deveria encarar os desamores
da vida real? Se lá, diz Manoel Bandeira, eu tenho tudo o que quero?
“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada...”
(Manoel Bandeira, Estrela da vida inteira, cit., p. 127)
A Passagem Bíblica da Multiplicação revela um milagre para atender o coração de homens, de pais e chefes de família. Uma verdade tão crua
e tão poderosa, que se faz como o único
milagre de Jesus a ser relatado de igual maneira pelos quatro evangelistas.
O milagre não apenas deixa evidente a compaixão de Deus, ela também evidencia a
diferença gritante que existe entre homens e meninos.
Um pai de família, um marido zeloso NUNCA seria encontrado com alimentos juntos a sua família faminta. Um pai tira da boca para alimentar seus filhos, sua mulher. É ele que sai de casa ainda de madrugada em Santa Cruz em direção a Niterói, pegando trens e barcas para trabalhar, produzir sustento e conforto para os seus sem ao menos de se importar com o cansaço da viagem e o custo disso para a sua própria alma e saúde. A fome e a miséria têm ao longo dos séculos sido a mais poderosa fonte de guerras, conflitos, enfrentamentos e mortes diversas. E eu posso afirmar sem romances que se Jesus não estivesse ali, coisas dessa natureza seguiriam seu curso normal. “Tenho compaixão da multidão, porque há já três dias que estão comigo, e não têm que comer”. (Mc 8. 2)
Chamamos
romanticamente de providência o que
a realidade chama de egoísmo, imaturidade. Em dias difíceis são meninos que retém
coisas essenciais. E o mundo só sai da desgraceira
em que se encontra quando os meninos crescem e se tornam homens. Um HOMEM morre na frente da sua família, mas não suporta
ver a sua família morrer na sua frente. Meninos, por outro lado querem
sobreviver, brincar mais um pouco. Os meninos não pensam em todos, em famílias,
no mundo, eles pensam apenas em si mesmos: “Está
aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos... ” (Jo 6.
9)
Após 3 dias sob ministração intensa, todos os homens se encontravam exaustos e sem
os alimentos que levaram para o seguir Jesus. As centenas de fogueiras
espalhadas por todo lugar apenas produziam uma fumaça sem cor, sem sabor e sem
cheiro. Era um cenário sem grandes novidades como uma viagem pelo deserto, onde
tudo o que se vê pela janela do carro é areia, areia e areia que parece não
mais acabar! Não é por acaso que o único evangelista a dar o detalhe de que um “garoto” é o possuidor dos pães/peixes é
João. João, naqueles dias também era um garoto
e num ambiente desse, os garotos se veem, e os adultos buscam enxergar
soluções.
imagem extraída da internet. |
Um
menino bem ensinado, curioso, inteligente, mas sozinho no mundo (naqueles dias Jesus se esbarrou com muitos
meninos assim – Lc 18. 22). Talvez
filho de uma mãe idosa ou doente, talvez
criado pelos avós, mas sozinho desde cedo. Se estivesse ali na companhia de um
adulto certamente não seria encontrado com alimentos. Não é esse o atual
problema do mundo? Meninos sozinhos brincando com brinquedos poderosos. Meninos
grandes brincando pelo planeta de “Falcon, Rambo e G.I. Joe”. Meninas
que são eternas Barbie`s em busca do Ken. Enquanto eles se divertem o mundo
fica bagunçado como um pátio de escola na hora do recreio. Meninos não percebem
que o mundo ao seu redor precisa de uma contribuição, se eles têm algo,
precisam ser – como na passagem – encontrados: “E ele disse-lhes: Quantos pães tendes? Ide ver. E, sabendo-o eles, disseram:
Cinco pães e dois peixes”. (Mc 6. 38)
Quantos
romances, prosas e poesias não nasceram desse texto, de ignorar, de passar por
cima dessa verdade. Mas aqui a beleza esconde a dura verdade que que meninos
não transformam mundos, eles precisam crescer, à exemplo do próprio Jesus, que
não morreu Deus-menino para o nosso bem, mas Deus-homem para a nossa
salvação. O garoto não é a origem dos milagres (e eles nunca são), mas revela
por que os milagres precisam acontecer.
imagem extraída da internet. |
Nesse teatro da vida cheio de luzes, cores e sabores, a gente precisa
logo entender quem somos e no que estamos nos tornando. O mundo parece ficar
cada vez mais bagunçado e ameaçador e não adianta jogar açúcar carnavalesca sobre isso para esconder a realidade. Cada vez
parece haver mais meninos e menos homens. O mundo pós covid-19
é um mundo que precisa de mais solidariedade do que de vacinas. Na
verdade, a vacina não vai ter muito efeito num mundo onde crianças não querem
crescer.
Em 2021 a pergunta transformadora e poderosa é: onde eu estou diante das coisas que precisam acontecer para que todos estejam bem? Enquanto os adultos pensam nisso de modo diligente, as crianças continuam brincando sem se importar até mesmo com a própria fome. O mundo precisa de mais relacionamentos e menos casualidades. Por que homens pensam em tantas e tantas pessoas, mas meninos só pensam em brincar. “Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?” (Jo 6. 9)
Se
queremos Deus precisamos crescer. Por que os adultos Jesus têm sempre consigo,
mas os meninos Ele encontra por acaso.
Ney Gomes – 08/12/2020. Twitter@neygms
Tudo o que passou é
experiência. O agora é relacionamento e o que está por vir é desafio.
COMPRE DIRETO DO SITE DA EDITORA. |
Comentários
Postar um comentário