ANTIOQUIA, meu sonho de igreja (04).
Antioquia.
Chave que não abre e porta que não fecha.
Quando Barnabé e Paulo discutem por causa de João Marcos, uma coisa mais importante que a contenda aparece diante de nossos olhos: A importância que a igreja dava ao fato de se ser humano. A igreja não é nada sem o homem. Os projetos nada valem sem o homem, e o líder não é nada sem o homem dentro dele. ANTIOQUIA era a igreja que trabalhava em prol da humanidade. Se o Cristianismo fosse uma ciência, ANTIOQUIA seria a cobaia perfeita para estudar e compreender o funcionamento disso que JESUS chama de "Sua igreja". Tudo o que foi a igreja de ANTIOQUIA está bem diante de Paulo, com raízes fortes e bem profundas. Barnabé jamais se esqueceu de sua crença e nem mesmo Paulo seria capaz de afastá-lo dela. Para Barnabé era inútil sair para transformar o mundo sem humanidade. Pois só uma espiritualidade imbuída de humanidade é capaz de derrubar as barreiras culturais, políticas e históricas que nos separam (Ef 2. 14- 17). A alegria, a dor, a felicidade, a realização, o fracasso. O homem vive situações que são indispensáveis ao líder em seu ministério diário. Se não há um homem dentro de seu líder, não há um homem dentro de seu Cristo. E os agnósticos docéticos sempre estiveram corretos. O fundamento dos Apóstolos é uma farsa; viva as bestas-feras de Éfeso!
A divindade reveste a humanidade e jamais toma o seu lugar. A divindade sem humanidade é tirania. Pois só os seres humanos sabem o quanto é importante à misericórdia. Jesus revestiu sua divindade de humanidade, ela não foi anulada, sabemos que ela estava lá, dentro dEle. E é angustiante ver que hoje em dia muitos líderes já não têm mais um homem dentro de si. Não sabemos se ele está lá, se está livre ou refém da tirania de sua aparência exterior. Jesus viveu como homem sem jamais ser refém de sua humanidade, e sua entrega total no Getsêmani declara isso. O cristianismo não é uma contenção para nossa humanidade e sim um filtro para nossa natureza. Não somos salvos por estar em Cristo (Jn 2. 9b), somos salvos por Seu amor, Sua entrega, Sua compaixão (Ef 2. 1- 10). Estar em Cristo é estar bem, é se harmonizar com a vontade de Deus, é reconhecer que o sistema mundano está falido em seus conceitos e valores (II Cor 5. 11- 21). Estar em Cristo é estar com a mente restaurada, é aceitar o desafio de transformar o mundo pela renovação de nossos valores. A História dá testemunho da importância de ANTIOQUIA quando afirma que naquela cidade o culto a deusa Astarote era tão indecente, que foi preciso uma intervenção do próprio imperador Constantino para que ele tivesse fim. E isso foi feito mediante o uso da força. Por mais de 500 anos a igreja de ANTIOQUIA se manteve crescendo e afirmando a sua importância, e isso, se deve a sólida base sobre a qual foi construída (Ef 2. 19, 20). Ao ser martirizado, um de seus líderes nos descreve bem a natureza de seu cotidiano: "Trigo de Cristo, moído no dentes das feras". Foram essas as palavras de Inácio, bisbo de ANTIOQUIA, em virtude de sua condenação e morte.
Trigo, assim se define bem a igreja que transforma e alimenta o mundo com seus ideais. ANTIOQUIA fazia as pessoas pensarem, todavia, hoje, as pessoas são excitadas a seguir seus líderes de forma cega e inquestionável (acrítica). Não existe mais um rebanho, tudo o que sobrou foi uma massa para se manobrar. Pessoas para se negociar, um seguimento que dá votos para a política de pastores cansados do altar. Um grupo de pessoas prontas para comprar produtos "evangelicanizados" com o nome de pessoas, famílias e rótulos denominacionais. Não é por acaso que já haja entre nós quem afirme que a igreja se tornou numa instituição falida. Hoje há lideres que não sangram, são vazios do homem. Máquinas programadas para dar lucro e crescimento ao seguimento protestante. Produtores de espiritualidade, mas, que a ninguém tornam espirituais (Mt 23. 15). Barnabé é o que devemos seguir como modelo de crente e líder congregacional/episcopal. Ele ama as pessoas, se arrisca por elas, reduz a velocidade de seu ministério por elas. Pois ao abraçar João Marcos, sai da mira dos holofotes, da mídia, da imprensa de sua época. Qual dos pastores "telequetes" de hoje faria tal coisa por um discípulo, amigo ou parente?
Em outros tempos a igreja foi à luz do mundo, hoje ela quer a luz do mundo. Mas, não uma luz qualquer. Ela quer a luz do seguimento do entretenimento que diz: "LUZ, câmera, ação!" Barnabé e posteriormente Paulo, foram lideres cheios de misericórdia. E o que é misericórdia nesse sentido? Misericórdia nada mais é do que um atraso no relógio de nossas ações. Esse retardo nos dá a oportunidade de distinguir a origem das atitudes, das razões, dos porquês (Jo 9. 1- 3). Qual era o problema de João Marcos? Certamente não era o problema que Paulo pensava que fosse. Mas, é certo dizer que Marcos tinha um problema e Barnabé sabia que era a missão da igreja ajudá-lo a se livrar dele. O rompimento dos dois maiores expoentes da espiritualidade de ANTIOQUIA foi de certa forma interessante para aquele que conhecemos como Apóstolo Paulo. Pois o rompimento criou um micro-trauma importante para o homem que habitava dentro dele. Micro-trauma é aquela coisa que acontece quando uma criança leva um choque ou um susto forte. A experiência ruim cria uma lembrança forte para aquilo que é de vital importância (Salmo 51).
E o que de melhor revela isso, é o fato de ele levar consigo além de Silas, um jovem promissor, porém ainda inexperiente como João Marcos com eles na viagem. Carregar Timóteo era reafirmar para si mesmo e para Barnabé seu inquestionável compromisso com tudo o que foi ensinado em ANTIOQUIA. Alias, como lideres da igreja de Deus na terra, temos que providenciar isso as pessoas: Uma igreja que elas possam carregar dentro de seus corações. Marcos e Timóteo construíram com a ajuda desses dois homens um ministério para se guardar na memória (I Tm 4. 12). E para que isso acontecesse Barnabé abriu mão de uma parceria bem sucedida e Paulo de um pouco de suas crenças pessoais. Para que o líder tenha sucesso o homem dentro dele precisa fazer alguns sacrifícios pessoais. Por isso é tão importante que haja um homem vivo e livre dentro de cada líder. Sou agradecido a Deus por meus primeiros lideres. Que abriram as portas de suas casas e vidas para ensinar um grupo de jovens (desempregados, estudantes) que pareciam não ter valor algum. Por eles terem enfrentado a maioria da igreja para que pudéssemos desfrutar das coisas que o Espírito estava fazendo em nós. Por meu primeiro pastor [Samuel Lima], um homem e um líder que carrego dentro de meu coração. Eu o vi chorar, orar, urrar, lutar, acreditar e inspirar. Nem sempre nessa ordem, mas sempre por nós. Ele tinha um tanto de ANTIOQUIA dentro dele e nos deu disso, "de coração".
Doze anos se passaram desde minha conversão, todavia, seu amor e palavras ainda são muito presentes. Lembro-me de umas das coisas mais importantes que ele me ensinou: "Meu filho, se você é grande demais para um lugar pequeno, você é pequeno demais para um lugar grande". Por causa disso ainda tenho enormes esperanças e não desanimo nunca. Pois ainda existe uma igreja de ANTIOQUIA para se estar (Hb 4. 9- 11). Uma chave que abre para salvar e uma porta que fecha para proteger. ANTIOQUIA é o que se pode fazer de um homem!
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