Salmo 23 - O Conhecimento de Davi (vs. 02 e 03).

 


SALMO 23. 

O CONHECIMENTO DE DAVI... 

v. 2, 3 – Sobre Processos.

 Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome”.

Muito já foi dito sobre gente que precisa de milagres e gente que precisa de processos. Processos que precisamos viver é diferente de milagres que precisamos receber. Davi entendeu que há processos que nascem por meio de pessoas (Ele me faz/Ele me guia), por meio de lugares (pastos/veredas) e sentimentos (por justiça/por amor). Reengenharia de emoções e confissões nos ajudam com as cargas e fardos da vida. Sara recebeu um milagre que gerou um processo necessário. E há processos que geram milagres que precisamos. Aqui, nesses versos, são os processos que produzem milagres. Milagres de paz para a alma e confiança para o espírito. A salvação é um milagre que nos leva a processos de crescimento e relacionamentos. A experiência produzida pelo processo particulariza o cuidado de Deus anunciado nas escrituras! 

Sentimentos sempre foram uma fonte de sucesso para Davi. Não por acaso, seu prólogo ser “um homem segundo o coração de Deus”. Ele despertou sentimentos em Saul, nos filhos de Saul, no povo de Israel, em sacerdotes, profetas e até entre adversários conhecidos. Quando na medida certa os sentimentos fazem qualquer projeto dar certo. E eles estão lá, registrados na história da nossa salvação (Jo 3. 16). E de Davi a grande façanha de entender que em tempos difíceis é preciso trocar de sentimentos. Que por vezes, a vitória que desejamos está no que escolhemos sentir nas horas difíceis: “Quando eu tiver medo, porém, confiarei em Ti” (Sl 56. 3). Essa verdade ele ensinou para Salomão, que registrou com outras palavras (Pv 24. 10).

Já em seus dias de Rei, como ele poderia se esquecer da eira de Araúna? Em Maanaim, Davi encontrou refúgio, história que nutre a fé e o ânimo. Ziclaque não produzia isso, era um lugar de lembranças dolorosas. Como se esquecer da caverna de Adulão? E o que dizer de Efes-Damim, o lugar onde tudo começou? 

Davi viveu processos milagrosos por meio de pessoas. Abigail, sua esposa, foi um desses processos que produzem milagres. Tem gente que entra em nossa vida para nos ser processos de descanso, milagres de paz. Mas tem gente que vem para nos ensinar a segurar na espada, ser forte, ser prudente e nunca chorar na hora errada. Bons marinheiros não se fazem com mar calmo e algumas pessoas serão essas tempestades que nos adestram (Sl 55. 21). 

No que diz respeito aos dilemas e desafios da vida cristã é certo dizer: 90% de tudo se resolvem com bons processos de mudanças (reeducação, reorientação e reorganização). As outras 10% se transformam com milagres, mas essas coisas não acontecem necessariamente nessa ordem. No caso de Maria, primeiro foi um milagre e depois veio um processo. Com Israel saindo do Egito, a mesma coisa! Com Moisés, primeiro foi processo e depois milagres. Também foi assim com Davi e outros tantos. É nos processos que podemos conhecer Deus! Milagres apenas nos dão a oportunidade de experimentá-lO. 

Davi também viveu milagres processuais. Rauzito em “As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor”, já se queixava da fragilidade do mundo, onde se é possível perceber que um palito de fósforo com um pouco de conhecimento para um motor de toneladas. Um palito chamado Davi, milênios antes dessa música, emperrou a máquina de guerra filisteia chamada Golias (I Sm 17. 4- 7). Bem, esse é o tipo de feito que sempre faz as pessoas lembrarem de um palito de fósforo! 

A Bíblia diz que o restabelecimento da verdade de que José estava vivo trouxe instantaneamente vida a alma de Jacó (Gn 45. 27). Foi um milagre sem processos. E é disso que se trata a etimologia da palavra hebraica “refrigera a minha alma”. No original seu sentido significa ‘trazer a alma de volta’. Para isso servem processos, para trazer a natureza humana, de volta às coisas do céu que dela se perderam (I Tm 1. 7). E não seria essa última a mais verdadeira definição de milagres? 

 


NOVAS TECNOLOGIAS DO CORAÇÃO.

“Certamente que me tenho portado e sossegado como uma criança desmamada de sua mãe; a minha alma está como uma criança desmamada”. (Sl 131. 2) 

Levou um tempo para Davi desvendar as diferenças existentes entre herança e legado, mas ele conseguiu. No entanto, nesse meio tempo ele perdeu Absalão. Para o mesmo mal que dominava o coração de Saul: soberba. O pastor Myer Pearlman vai nos lembrar em seu maravilhoso comentário de Salmos que soberba é o que nos impede de criar ação corretiva contra pecados futuros (Salmos, Orando com os Filhos de Israel - 1 ed. - Rio de Janeiro: CPAD, 1996). 

Processos não funcionam em gente soberba. Davi descreve tais pessoas como que não podem ser ensinadas, que se consideram prontas para as grandes conquistas, mas não para as preciosas lições (Sl 19. 13). Os processos são necessários para domar essas inquietudes provocadas pelos inesperados e sua vocação natural de nos amedrontar, enraivecer. Um coração em processo não fica facilmente debilitado, doente, fraco ou estéril. Os processos são necessários para consolidar a paz como uma conquista da alma que crê em Deus! 

Davi aprendeu isso nos dias que fugia de Saul, todavia não teve tempo de organizar esse conhecimento para colocá-lo à benefício de Absalão. Reter verdades no coração é herança, saber passar adiante essas verdades é legado, e Davi tinha tanto uma coisa como outra. Um coração inquieto e agitado não desenvolve fé. Agitações não deixam as pessoas terem paz de espírito o suficiente para se submeter a um processo (Sl 46. 2, 3). E que por isso, em dias maus, em dias complicados e difíceis, elas facilmente perdem a esperança, agem por conta própria. Esperança que é a marca inconfundível de quem se submeteu a processos (I Co 13. 11). 


No Salmo 131 Davi vai registrar ensinamento das conquistas de seu coração ensinável. Talvez esse Salmo tenha sido escrito das dores de perder seu filho e da esperança viva que ele tinha de não ver mais nenhum pai em Israel bebendo desse mesmo cálice amargo. À noite, quando lhe fugia o sono ele lembrava que via em Absalão o melhor olhar que outrora encontrara em Saul. De quem vê as pessoas como inferiores. Saul também parecia se importar mais com as coisas grandes, do que com as importantes. Absalão parecia sempre estar impaciente com as coisas básicas que deveria aprender. Por outro lado, parecia sempre estar bem confortável diante das coisas que os homens levam tempo, bastante tempo para aprenderem: “SENHOR, o meu coração não se elevou nem os meus olhos se levantaram; não me exercito em grandes matérias, nem em coisas muito elevadas para mim”. (v. 1)
 

Davi nos lembra que gente que tem inteligência emocional e espiritual, sempre dá importante atenção ao que é básico e simples. Um adágio alemão diz que “o diabo mora nos pequenos detalhes”. E é assim que grandes homens vencem o diabo, com simplicidade, mansidão e humildade de coração. Nas noites em que o sono parecia fugir dele para terras distantes, ele sempre dizia: um salmo por um sono, um salmo por um sono.

 

Ney Gomes é o autor do BLOG ‘Grãos de Entendimento’,
um trabalho de 14 anos, com mais de MIL poesias/textos publicados.
Também é o autor dos livros “Êxito Sobre os Desertos 1 e 2”.
16/12/
2018 – Twitter@neygms
 “Tudo o que passou é experiência. O agora é relacionamento e o que está por vir é desafio”.


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