O Rico e o Lázaro, Considerações.
O RICO
E O LÁZARO, CONSIDERAÇÕES.
Certos ensinos de Jesus conosco se esbarram frequentemente, outros, se fazem lembrar apenas em ocasiões provocadas (Mt 5. 39- 41). A Parábola do Rico e do Lázaro é certamente uma que nos desafia todos os dias, que se apresenta com muitos elementos em nossa rotina diária. Um verdadeiro arauto literário para nossos corações, que denuncia que tudo o que somos e temos deve se transformar em algo para a glória de Deus.
A Parábola começa com um alerta global, uma advertência geral e uma luz escatológica. Ela deixa em evidência uma séria falha de ‘solidariedade’, onde não há transferência de recursos, conhecimento ou mesmo empatia. O Evangelho nos ensina que distribuição de riquezas nada tem a ver com ser de direita ou de esquerda, tem a ver com SER humano. Não são os sistemas e algoritmos que falham nos fins dos tempos, é o processo de humanização de uma geração para outra (II Tm 3. 1- 5).
Existe uma diferença entre “falhar a crença nos homens e falhar a crença dos homens”. Nessa parábola somos chamados para observar o segundo caso, sendo bem vivo a existência ainda do primeiro. Os personagens estão distantes um do outro por alguns metros, mas é miseravelmente sentida a falha do homem rico em comunicar ao outro algo de suas públicas posses. Mas a gravidade disso não pode ser bem vista senão pelas lentes de ATOS 10, na pessoa de Cornélio: “E disse-lhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus...”. A cultura judaica nada esperava de um romano, mas esse romano não fazia esperar quem dele para estar melhor tivesse que receber algo.
A Parábola vai continuar sua missão de chamar a nossa atenção para duas verdades que não podem ser ignoradas e que controlam toda a narrativa desse ensinamento de Jesus. Seremos lembrados que riqueza não produz espiritualidade para salvação e salvação não produz riquezas terrenas. Para bem da verdade, uma coisa pode contribuir para a saúde da outra, mas em sua natureza elas não são complementares.
Veja bem, o rico morre é vai para o INFERNO, não por ser rico, mas por não ser
solidário, humano. Paulo vai nos
ensinar que o amor ao dinheiro pode descaracterizar uma pessoa ao ponto de ela
atentar contra si mesma: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de
males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos
com muitas dores” (I Tm 6. 10). A sabedoria para ter uma vida que
agrada a DEUS não mistura o que tem nas mãos: “Vida longa de dias está na sua mão direita; e
na esquerda, riquezas e honra”. (Pv 3. 16). Dinheiro não cura a alma, dá
felicidade ou compra eternidade, mas pode ajudar você na sua missão de ser mais
humano e de melhorar a humanidade de outros. Mas se ele atrapalha essas coisas,
atrapalha de verdade: “Mas, ouvindo ele
isto, ficou muito triste, porque era muito rico” (Lc 18. 23).
O miserável rico dessa Parábola vai para o inferno com a mesma mentalidade que tinha na terra, de que todos os homens são seus serviçais. Logo, ele encontra um modo de colocar o “Pai Abraão e Lázaro” ao serviço de seu conforto, mas sua nova realidade encontra falhas estruturais (v. 24). Mesmo no INFERNO ele continua empreendendo para poder buscar melhor lugar para si e para os seus. Riqueza não são apenas recursos materiais, inteligência também é uma riqueza, mas é preciso haver vontade de compartilhar conhecimento. Estamos no séc. 21 e algumas nações ainda se recusam a compartilhar e ensinar tecnologias que apenas elas dominam.
A igreja que deseja ajudar os pobres precisa ser uma igreja que gera riquezas e que ensina a destruir o que alimenta a pobreza. Pobreza não é virtude e não faz parte do plano de DEUS para a aquisição de nada que importa. A pobreza é feia e não é atraente. Jesus aqui vai nos ensinar sobre um dos piores males da pobreza: A pobreza impede a virtude de estabelecer comunicação saudável. Veja, as virtudes que levaram Lázaro para o lar celestial não puderam ser transmitidas ao rico por que sua condição não era desejável ou mesmo respeitável. Salomão vai nos dizer em Eclesiastes que o POBRE ninguém vê e ninguém ouve, mesmo quando seus feitos são notáveis: “Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens, e veio contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes baluartes; E encontrou-se nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria, e ninguém se lembrava daquele pobre homem. Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre foi desprezada, e as suas palavras não foram ouvidas”. (Ec 9. 14- 16).
Diante das considerações feitas aqui, podemos afirmar que é isso que DEUS deseja para a sua igreja? Uma igreja que ninguém ouve ou mesmo respeita? A igreja deve optar por ser defensora dos pobres, mas ela não deve guardar em si essa condição (Ef 1. 3/II Pe 1. 3). A pobreza impede a igreja de depositar legado e herança no coração das próximas gerações. Lázaro, que morreu em silêncio, em silêncio é visto no paraíso. Nada ele fala, nada expressa e nada tem a acrescentar. Uma riqueza espiritual que não se pode compartilhar não deixa de também ser uma espécie de miséria (Mc 16. 15, 16). Espiritualidade e sabedoria em pobreza é como joia de ouro em focinho de porco. Jesus nos ensinou que não permitir que as riquezas invadam a alma é uma boa maneira de fazer elas adquirirem o que importa de fato: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. (Mt 5. 3). Quando as riquezas se aninham em nossa alma, fazem dela um celeiro ou um cofre improvisado na terra, nossos problemas começam de verdade: “E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens...” (Lc 12. 16- 21).
Os extremos de qualquer verdade são lugares perigosos para se habitar. Se o Rico compartilhasse de sua condição com Lázaro teria feito diferença positiva para os seus dias na terra. Se Lázaro tivesse compartilhado seu conhecimento virtuoso com o homem rico teria feito diferença para os seus dias na eternidade. E é a igreja que deve fazer a conexão dessas duas verdades ainda hoje, por meio de seu ministério profético e sacerdotal. Sem a igreja, apenas a tragédia aproxima os extremos. Naamã não teria ouvido a menina escrava se sua pobreza condicional não fosse tão severa quanto a condição da menina. Sem Jesus, Zaqueu teria que contar com a sorte que teve Naamã, ou teria ele encontrado o mesmo fim do homem dessa parábola. Sem a igreja a humanidade continuará usando as tragédias, derrotas e fracassos para se comunicar, como uma carta, ou um telefone.
O Cristianismo verdadeiro que é banhado pelo Evangelho de Jesus espiritualiza as riquezas e enriquece a espiritualidade. Ele coloca os três tipos de riquezas que existem à serviço do Reino de Deus: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. A igreja é dona de riquezas relacionais, materiais e espirituais e tudo isso pode transformar o mundo de inúmeras formas, uma vez que todas as pessoas precisam de investimentos diferentes (Fl 2. 8/Cl 1. 12, 13). Tudo o que temos deve se transformar para tocar o outro de forma positiva, e essa é a verdadeira política que Deus espera de todos os homens (At 10. 34, 35). É triste que no inferno alguns passem a entender que mudanças precisam receber substância para acontecer: “E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.
Um adágio oriental diz: “Dê ao homem um peixe e ele se alimentará por um dia. Ensine um homem a pescar e ele se alimentará por toda a vida”. Em todo canto do mundo todas as pessoas sabem que todos sempre têm algo a oferecer que possa mudar a vida de alguém. Pois o pouco com DEUS é muito e o muito sem DEUS é nada!
Ney Gomes – 11/04/2022.
"Se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado a nossa esperança no Deus vivo." 1 Timóteo 4.10
Ótima Reflexão bíblica e teológica.
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